Textos Autores

Katalog: MAC, Museu de Arte Contemporânea, São Paulo, 1982

„Dentro do alcance de minhas mâos e muito além . . .“

Anotaçöes sobre a pintura de Alfried Hagedorn.


„A pintura obviamente é algo de volátil, um princípio intrínseco, e quando se toca nele, tudo começa a entrar em movimento. Passa como fina areia seca pelos dedos de quem procura determinar os seus contornos. Esperar, confiar no momento e abrir-se livremente ao seu efeito . _ .“ Estas frases escaças de Hagedorn transcrevem, parece-me, 0 essencial da sua pintura. O estado de suspensâo que lhe é próprio é declarado como intençâo da pintura em geral, e finalidade da pintura figurativa. Desta forma, o seu mundo de imagens é sempre coerente onde mantém, ainda que isto pareça paradoxal, a sua indeterminabilidade.

Quem tenta desvendar os modelos e influências do seu trabalho, encontra, na Europa, pelo menos no que diz respeito à forma e à cor, poucos exemplos semelhantes. Importante foi para ele um período de mais de dois anos passados em Kioto, o que lhe foi possível através de uma bolsa de estudo do Governo japonês e do DAAD, período este que contribuíu de forma decisiva para aprofundar sua afinidade sempre existente com 0 pensamento da Asia oriental, e, ao mesmo tempo, para esclarecer a sua posiçäo ainda inconsciente e adquirir uma certa perspectiva pelo desvio do estudo aprofundado.

Os modelas encontram-se na Europa mais facilmente no campo da literaturaz 0 nome de Hölderlin impöe-se logo de início, mas muitas vezes também nos lembramos de Ernst Moritz Arndt, e, mais longe, de Proust e Baudelaire. Certamente näo se trata, em nenhum dos casos, de ilustraçöes de livros de um ou outro destes poetas, mas de uma afinidade de espírito mais genérica. Com certeza revela-se também una tradiçäo romântica, comprometida com o ídealismo alemäo, que também se evidencia na inclinaçäo à justificaçäo teórica do próprio ponto de vista.

Da mesma maneira como é difícil determinar modelos para a pintura de Hagedorn, assim também o é atribuir-lhe um lugar fixo no panorama da arte atual. Chama a atençâo, no entanto, quando se observa os seus trabalhos diante do quadro das atividades da arte contemporânea, no contexto maior de uma exposiçäo ou também no ambiente mais particular do atelier, que näo parecem corresponder completamente a nenhuma das concepçöes artísticas atuais. Nâo lhes pode ser atribuído nenhum lugar fixo ou exclusivo, nem - 0 que me parece essencial - pertencem a uma só esfera cultural, nem a uma só das tendências artísticas correntes. Encontram-se num campo intermediário, instáveis e inlocalizáveis, no sentido positivo, „Em Busca do Tempo Perdido“ ou também, parafraseando Proust „ . . . da identidade perdida“. Nesta atitude básica, expressada de forma bastante insistente, reunem-se ceticismo e segurança de si próprio, levando a uma concepçäo bem característica de sua geraçäo e, assim, bem atual.

O desenvolvimento artístico realiza-se em etapas, paulatinamente, sendo assim tanto mais eficaz o desligamento de seu professor Reimer J ochims, cuja influência predominou durante algum tempo; a seguir, o período da influência japonesa, ate chegar à sua concepçäo artística atual que parece ser o resultado de sua tranquila persistência. Na sua obra näo há, até agora, modificaçöes abruptas de estilo, nem gestos barulhentos. Os seus quadros näo pretendem dominar o observador nem persuadí-lo. Impressionam pela sua beleza reservada que renuncia a dissonâncias, beleza esta que fascina pela sua presença discreta, sem por isso congelar numa pose decorativa. N o âmbito da pintura abstrata mais recente é raro encontrar uma impressäo de intensidade comparável de desproteçâo e vulnerabilidade. Este efeito dos quadros deve-se, naturalmente, tanto à técnica como aos meios da forma e do colorido, aos quais a fragilidade é elemento imanente. Uma parte essencial neste efeito cabe à sua técnica especial de cores transparentes aplicadas com o pincel. Hagedorn pinta com cores acrílicas diluídas sobre tecido de algodäo preparado, obtendo assim no formato grande uma transparência, comparável à da aquarela e que se inspirou na pintura de nanquim japonesa. Muitas vezes empenha-se em transpor de forma sensorialmente verificável o caráter material da cor e das associaçöes a ela ligadas (como, por exemplo, luz e escuridâo como opostas a transparente e opaco, leve e pesado).

Nebulosos véus de cores que se confundem um com o outro, estendem-se sobre a superfície do quadro, sobrepostos, às vezes, por pinceladas mais escuras e opacas, como siglas, lembrando carateres japoneses. De forma geral sempre se conserva a impressäo de transparência, ausência de gravidade e assim de distância da terra. A técnica mostra-se frágil no sentido duplo: tanto no que diz respeito ao próprio processo de trabalho como também ao seu efeito no quadro como este se comunica ao observador. O processo técnico exige extrema concentraçäo e sensibilidade; o processo da pintura, sendo facilmente perturbado, requer equilíbrio, a fim de que o resultado näo seja leve nem maciço demais. Esta vulnerabilidade comunica-se também ao observador: as mínimas perturbaçöes na estrutura do quadro podem causar o desequilíbrio. Os qudros tornam-se problemáticos, onde näo conseguem manter este estado de suspensäo que lhes é imanente, onde ficam condensados para formar símbolos determináveis ou tendem a cores dissoantes e pouco naturais. Ou, exprimindo-o de forma positiva, Hagedorn convence mais quando consegue manter este equilíbrio de forma, cor e conteüdo e chega a um „estado primitivo“, o qual evoca uma variedade imensa de possibilidades de desenvolvimento.

Neste sentido também o fato de näo estar „arraigado“ num ou noutro dos movimentos artísticos näo deve ser confundido de forma alguma com indecisâo e falta de posiçäo própria. Pelo contrário, exatamente este „näo estar estabelecido em nenhuma parte“ torna-se a posiçäo verdadeira da sua pintura. E este silêncio de uma esfera impalpável, onde transparece algo de natural e na qual reluzem significados que näo chegam a concretizar-se. As pinturas de Hagedorn sugerem uma condiçäo imaterial, longe do hic et nunc, uma posiçäo que no contexto da pintura atualmente em voga dos „J eunes Fauves“ parece especialmente desligada do tempo, sendo sempre sem pretensäo e afirmando-se de forma näo espetacular, no sentido positivo da palavra.

Carla Schulz-Hoffmann

Staatsgemäldesammlungen München



Traduzido do alemâo por Maria Clara Maucher






Expressão visível de uma realidade invisível

Nas pinturas de Hagedorn, a cor é tratada com grande consciência e concentração: as cores são claras, luminosas e transparentes. Não poucas imagens podem ser confundidas com aguarelas, pelo que aparecem arejadas apesar do seu tamanho. A aplicação de tinta é firme e delicada ao mesmo tempo, variando de uma brisa de gossamer a escuridão respiratória. Pelas gradações reconhece-se o requintado colorista....
O seu trabalho de escovagem é tanto espontâneo como disciplinado. Ele torna visível uma realidade cuja natureza é abstracta e espiritual....

As pinturas dos últimos seis anos mostram uma grande variedade, de cores, das suas nuances, das respectivas dinâmicas e da disposição da superfície. Parecem lutar pela harmonia, mas a harmonia perfeita é deliberadamente evitada.... Fascinação e tranquilidade emanam das pinturas de Hagedorn - a expressão visível de uma realidade invisível.

Heike Marx

Galeria Derix, Taunusstein/ Wiesbaden






Kunsthalle Mannhein 1986
Kunstverein Lingen 1986

Prefácio

A pintura de Alfried Hagedorn não é programática, nem se desenvolve em um sistema fechado ou em um cânone fixo de formas que ele usa para expressar certos conteúdos. Ao contrário, a observação feita por Carla Schulz-Hoffmann em 1982 para caracterizar a pintura de Hagedorn é verdadeira, que ela não está firme e exclusivamente localizada em nenhum lugar, nem em um determinado lugar cultural, nem dentro de nenhum dos movimentos artísticos exaltados. Olhando para suas pinturas de grande formato, em sua maioria, com seus véus transparentes de véus de cor, muitas vezes evocam uma riqueza de associações que, no entanto, são difíceis de serem tratadas em define inequivocamente. Alfried Hagedorn escreveu em um texto que em sua pintura ele queria abranger um amplo círculo de possibilidades, trazendo seu conhecimento em harmonia com sua habilidade. E em outra passagem ele diz: "Esta pintura, que evita a representação, é livre para mostrar o que há entre as coisas. Ela faz uso de sugestão, ambivalência e a abertura das estruturas não permite uma apreensão definitiva. Desta forma, ela continuamente traz todos os sentidos do espectador a fluir, que nele renova significativamente seu pacto com o mundo".

Esta abertura, que é uma característica da pintura de Alfried Hagedorn, pode se originar, por um lado, de sua intensa preocupação com a literatura e a filosofia e, por outro, de um grande Affinity com a cultura e o pensamento do Leste Asiático; ela finds expressão na grande extensão de suas pinturas entre forma e cor, que são caracterizadas por um equilíbrio harmonioso. Mas isso decorre sobretudo de uma intensa reflexão sobre o significado de suas ações, sobre a essência das coisas às quais ele tenta dar expressão em suas imagens. Geralmente estas pinturas, nas quais Hagedorn tenta expressar certos empfindings e sentimentos que podem ser desencadeados por experiências visuais ou por humores, surgem de uma abordagem espontânea que é então executada em um processo lento. O trabalho com tintas acrílicas finas lhe dá a oportunidade de sobrepor muitas camadas transparentes de tinta, criando a impressão de transparência e ao mesmo tempo de ausência de peso, o que raramente é perturbado pelos fragmentos de forma que muitas vezes lembram os caracteres. Esta técnica requer grande sensibilidade e grande concentração, exige um equilíbrio interno para não fazer as imagens parecerem muito pesadas e maciças. As pinturas de Hagedorn têm uma presença discreta e impressionam com sua beleza contida, especialmente quando ele atinge uma harmonia de forma e cor que Carla Schulz-Hoffmann descreve como um "estado primário" no qual estão presentes várias possibilidades de desenvolvimento, no qual os significados são aludidos sem serem concretizados.

Alfried Hagedorn comentou várias vezes teoricamente sua abordagem artística e referiu-se à necessidade de refletir sobre a unidade sensual do mundo, cuja condição e forma de expressão mais importante é a diversidade. Implementar esta figura é o objetivo de sua pintura, com oqual ele também justifica sua abertura. Carla Schulz-Hoffmann disse: "As pinturas de Hagedorn sugerem um estado de coisas removido do aqui e agora, - uma posição que parece particularmente intemporal no contexto da pintura atual da "Junge Wilden" - enquanto sempre despretensiosa e em sua relação positivase afirmando de forma pouco espectacular.

Manfred Fath
Diretor Kunsthalle Mannheim

Heiner Scheeper
Diretor Kunstverein Lingen






Katalog: MAC, Museu de Arte Contemporânea, São Paulo

Prefácio

Alfried Hagedorn, artista alemäo, nos traz desde 0 seu país, obras pictóricas ligadas à tendência de um puro abstracionismo informal. Os elementos que constituem a composiçâo säo distribuídos em suas telas, de maneira bem aberta. Os signos de que se vale säo de caráter predominantemente plástico, pois apelam à nossa sensibilidade e procuram emocionar através de meios uramente artísticos nos uais afloram somente os valores ictóricos no mais exato sentido da alavra. As telas de formato grande, bem como os trabalhos sobre papel constituem-se em objetos próprios da criaçäo artística e desta maneira convencem plenamente, deixando emanar o espírito neles inserido.

Quando, nos inícios da chamada arte moderna, os artistas-pintores quiseram exprimir os seus sentimentos místicos ou transcendentais, 0 fizeram utilizando-se da figura humana, como veículo destas transposiçöes. Foi o que, geralmente, aconteceu no expressionismo, que na parte colorística teve seu referente nos pensamentos de Van Gogh e dos simbolistas. Em meados do nosso século essa manifestaçâo de caráter sentimental, beirando à compaixâo, foi possível de se manifestar também, por intermédio de obras náo figurativas, uma vez que 0 abstracionismo alcançou estas possibilidades na sua evoluçáo, que às vezes pendia para a geometria formal, outras vezes para o puro colorismo. Surgiu entäo, em larga escala o que se chamou de abstracionismo informal, tendência que se expandiu da Europa para o mundo inteiro, sendo que nessa fase, certos elementos, especialmente cultivados na arte do Extremo Oriente, foram incluídos nas ricas evoluçöes deste gênero pictórico. Desde sua consolidaçäo, ao lado de outros meios, esta pintura desenvolveu-se em diversas fases, intercaladas pelas novas propostas de quadros com materiais diversos e a nova figuraçâo.

diversificaçäo alcançada, ganhou novas dimensöes. Ela náo perdeu sua intensidade como mensagem, colocando, à nossa frente, imagens que convidam a uma contemplaçäo diretamente vinculada com a arte criativa nela realizada. Desta maneira, constitiu-se grande interesse para nós, dentro do panorama da arte contemporânea, a exposiçäo que Alfried Hagedorn nos traz e apresenta ao püblico paulista e brasileiro. Prefácio

Prof. Dr. W. Pfeiffer

Diretor, Museu de Arte Contemporânea de Sâo Paulo.






Catálogo: Museu de Arte Mannheim, 1986


"Não há como voltar atrás"

Para mim, Alfried Hagedorn é um daqueles pintores que não lidam com certezas facilmente recuperáveis. Ele não pinta quadros de memória nem de reconhecimento, as linhas de perfuração - no sentido de uma solução para possíveis enigmas - não são transmitidas, nem mesmo histórias contadas; todas as referências à realidade visível, ao mundo das coisas, de objetos descritíveis, sempre recorrentes, são excluídas. Se alguém olha um pouco mais de perto, logo se encontra em um - desconcertante? relaxado? - fantasmagórica. "O pintor não responde aos acontecimentos do dia, mas opera em áreas de fronteira reprimidas", diz Hagedorn. Isto também: "A sensação de falta determina suas ações". "Na foto, ao que parece, a ausência do real é reconhecida e aceita; as fotos em si não são lugar para certas informações: Estamos muito próximos. Não há distância entre nós e os não seguros.

Inseguro, porém, significa também: novo. Algo que ainda não estava - nunca - lá e que agora veio abruptamente à tona. As fotos do Hagedorn estão lá, não estão à nossa disposição. É por isso que eles exigem tanto do espectador? Falou-se da "sensação de falta". Mas o que falta? Certamente não falta originalidade. Quando vi quadros de Alfried Hagedorn pela primeira vez em uma exposição de Heidelberg, há cinco anos atrás, o pintor já tinha suas dependências, os anos de aprendizagem com Raimer Jochims, a ocupação talvez formativa com a arte do Japão. O que sentimos no início é algo mais, um sentimento de saturação, talvez de emoção comunicante direta, mas certamente de equilíbrio, de humor equilibrado trazido a uma fórmula concisa, algo profundamente romântico (se quisermos nos ater ao antigo vocabulário familiar). Um sujeito desejoso em busca de si mesmo, um ego que quer e precisa se reinventar sempre de novo e também tem que fazê-lo; também a renúncia de um local, linhas de fuga de perspectiva, de ilusão.

A pintura de Hagedorn, como eu disse, não retrata. Aquilo de que se pretende falar é o que realmente está ausente. O que vemos são cores, às vezes muito bonitas, cores muito preciosas, que fazem contato umas com as outras, se aproximam e se afastam umas das outras novamente, que flutuam sem peso e podem proliferar tropicamente, que circulam dentro de si, vagam de centro de gravidade em centro de gravidade, quase imperceptivelmente, que estão lá ou já foram novamente - mas nunca se tem a sensação de que estão completamente lá. Se tivéssemos quadros concretos, já saberíamos onde estamos, mas assim? Um "entra" em um quadro, procura o seu caminho para lá, surge novamente. Você leva algo com você.

Mas isto também é certo: As imagens de Hagedorn não falam a palavra de um estado de espírito que transforma estados emocionais subjetivos ou condições de dentro para fora. Eles se abstêm de comentar, não se referem a eventos anteriores, deixam por dizer o que aconteceu com o pintor; suas lembranças continuam sendo só dele. Toda intencionalidade, pelo menos no que diz respeito a certas idéias de forma, parece deliberadamente frustrada. "A técnica", escreveu certa vez Jackson Pollock, "é o resultado de uma necessidade". Alfried Hagedorn, presumimos, absolveu-se disso. Ele invoca explicitamente seu instinto sozinho, seu saber-fazer artesanal, uma disciplina que não precisa sempre e a cada momento refletir sobre seus próprios pressupostos. "Não posso há muito tempo confiar nesta instância interior que se formaram anos de pintura",diz um texto de 1982. Nessa altura, no mesmo local, falava-se também da "graça do movimento". Não sobre o esforço.

O esforço é certamente algo que não tem de ver. As imagens de Hagedorn, que muito já se pode dizer, existem apenas através das suas cores. Cores que visivelmente não querem ser nada além de cores, que portanto não podem descrever superfícies ou espaços claramente definidos e evitar qualquer condensação em sinais, símbolos ou metáforas. Cores que são acima de tudo pele, fina, respirável, transparente, pele de cor translúcida - filtro, membrana, diz Hagedorn - um lugar onde sujeito e objeto, dentro e fora, movimento e descanso, energia e resistência, desejo e sua realização podem se encontrar e trocar.

Em uma coisa, porém, não se deve errar: o instinto aqui, por mais presunçoso que seja, de buscar o que está entre as coisas, é um instinto completamente adquirido, mediado culturalmente. Hagedorn é tudo menos um pintor ingênuo que corre atrás de suas idéias e sensibilidades, e se alguém pedisse as pré-imagens, pelas razões mais ou menos concretas de suas ações, estas provavelmente seriam encontradas mais em sua leitura e em suas extensas viagens ao Japão, Sudeste Asiático, EUA e América do Sul do que no cenário artístico atual, que parece prestar tão pouca atenção a ele quanto ele a presta a ele. O fato de que ele é eclético por toda parte, tanto Lao-Tse como Giambattista Vico, Paul Valéry como Bashô, o mestre haiku, Baudelaire, assim como Hölderlin, é provavelmente uma das prerrogativas indiscutíveis de uma era alexandrina como a nossa. Os despojos culturais estão à disposição do contemporâneo e do artista, não para ele escolher: "Menos análise, acabou-se a separação, não se voltam mais um para o outro, mas estando no meio disso...o mundo é uma entidade sensual que nos inclui, ou não é".

Mas talvez seja apenas uma questão de não permitir que o seguro e sólido ,tudo o que de alguma forma se parece apenas com um sistema não deve aparecer de todo? Fazer imagens não é isso, toda a história recente da arte está ali como testemunha, uma realidade para si própria? Que as imagens dignas desse nome se abstenham de consumo rápido é uma das exigências que podem ser lidas em todos os lugares hoje em dia. Hagedorn também se submeteu à compulsão de criar sua própria assinatura inconfundível de uma forma complicada e arriscada. Onde outros se retiram para um único ponto de vista, este pintor toma o caminho oposto e se abre para o mundo mais amplo, para confiar em suas próprias experiências, para as coincidências e para o nem sempre previsível que esta confiança necessariamente implica. O risco que o pintor corre "antes" de cada nova pintura é entendido como um desafio sempre novo, cujos limites devem ser sempre definidos de forma nova e diferente. Apenas um ponto de parada: tudo o que acontece acontece dentro do que as mãos podem alcançar. Mas depois, para não ser lido em demasia quase enfatizando a adição: "... e muito mais além."

E muito mais além? Quão além é certamente uma pergunta ociosa e fútil. Os limites atraídos pela imaginação permanecem enigmáticos, aqui como em qualquer outro lugar. As pinturas, por pouco que revelem de si mesmas, preservam os gestos do pintor, traduzem em cores o que de outra forma não poderia ser dito, exceto com a perda de tudo o que é essencial, e na verdade poderíamos então nos contentar com isso. Claro: Pode-se também falar de cores, descrever como elas assumem uma superfície, como se espalham, seus movimentos, o ritmo, o tempo muito específico que atingem, entender que há e têm havido tempos mais brilhantes e escuros nesta pintura, sucessos e aqueles que estão apenas começando a ser formulados - e no final não se foi muito além da percepção de que estes quadros têm muito a ver com um momento muito específico, que estamos lidando com um lugar, um ponto de cristalização, no qual os eventos encontraram subitamente uma forma que lhes pertence apenas, que existe uma "imagem" que parece não contar com nada além de todas as incógnitas, mas ao mesmo tempo representa também a instância para a qual todas as soluções possíveis devem ser dirigidas.

Mas não há certezaem nenhum lugar. Como o motivo original, a idéia - supondo que tivéssemos que contar com ela - se mostra, e que precauções o pintor toma, em seu estúdio, sozinho curvado sobre a superfície branca, ainda intocada, não sabemos, deixamos seu segredo, não perguntamos sobre ele, por que deveríamos? "Não há como voltar atrás", adverte uma legenda de 1983. Claro que não, uma vez que o quadro está lá, as perguntas e respostas são irrelevantes, todos os caminhos de volta estão fechados. A imagem é o que é, uma afirmação livre, um jogo da imaginação, acabado ( bem sucedido ): assim presente.

Sigrid Feeser 1986

Crítico de arte






"SinglarPlural, Munique Rom Paris", Lothringerstr. 13, Munique, Departamento Cultural 1983


"Como é admirável,

Quem não pensa: "A vida é fugaz

Quando ele vê um relâmpago. ”


Bashô, um dos mestres dos tubarões, tem como um mérito essencial, como mostra este aparentemente simples triliner, fingir ser inteligente, ser capaz de ser compreendido imediatamente sem comunicar nada. Ou quase nada para comunicar. Apenas algumas palavras, uma imagem, uma sensação. Já um universo se abre e se oferece a nós. O ALFRIED HAGEDORN parece proceder de maneira semelhante. Na foto - Gelbe Bahn - ele desdobra uma superfície vertical, colocando três faixas desiguais em uma nítida e leve, mas ao mesmo tempo amarela contida. E nesta superfície aparecem de repente, em um gesto rápido, traços negros curtos e incisivos - da ordem de uma decisão - como se cada um fosse um corte na pele. Intervenções breves, de descarga, eventos que de repente encontram suas formas apropriadas. Enquanto em outras pinturas, ele deixa que zonas de cor se espalhem como campos úmidos e tropicais, cobrindo-se mutuamente, formando uma transparente da outra, para chegar - cada vez - naquele momento enigmático e raro, que é o lugar da pintura.


Gaya Goldcymer

Critico de Arte, Paris